Desafio Sarphati de Saneamento contempla solução para campos de refugiados, favelas e assentamentos

Os desenvolvedores do projeto selecionado receberão treinamento especializado em negócios e € 100 mil para a padronização e replicação do sistema.

A Semana Internacional da Água de Amsterdam 2021, evento bienal realizado na capital holandesa, lançou a primeira edição do Desafio Sarphati de Saneamento. A disputa contou com 85 inscrições de participantes de 31 países e a realização de uma etapa final com cinco projetos de saneamento básico seguro e capazes de oferecer soluções criativas, sustentáveis ​​e escaláveis.

A equipe da empresa Saneamento AKYAS, com sede na Jordânia, foi a escolhida com soluções inovadoras de sanitização para comunidades sem acesso a sistemas de coleta de esgoto, como campos de refugiados, favelas e assentamentos populacionais. A ideia apresentada é um sistema de banheiro com microestrutura de tratamento de efluentes.

“Desenvolvemos sacos portáteis para o tratamento de esgoto, o que significa uma forma de substituir redes de coleta e estações de tratamento caras por um dispositivo simples, com sacolas que são baratas, adaptáveis e portáteis”, explicou Bara Wahbeh, um dos representantes da AKYAS, logo após o anúncio da premiação.

O projeto tem potencial para criar núcleos de economia circular, uma vez que demanda uma gama de produtos complementares – como cloro – que tornam essa solução de saneamento tangível para os usuários de baixa renda e lucrativa para pequenas e médias empresas locais. Há a possibilidade de geração de um fluxo financeiro adicional aproveitando os resíduos, transformando-os em fertilizantes.

Durante a Semana Internacional da Água de Amsterdam, a organização do Desafio Sarphati de Saneamento apresentou alguns resultados de iniciativas anteriores, que concorreram ao Prêmio Sarphati de Saneamento, modelo original da disputa, estabelecido em 2013. No total, € 168 milhões foram atraídos para projetos que levaram água limpa para populações desassistidas em 65 Países, a maior parte nos continentes da África (66%) e Ásia (32%).

O legado de Samuel Sarphati

O Desafio Sarphati de Saneamento leva o nome do médico e empresário Samuel Sarphati (1813-1866), um dos principais responsáveis pelos projetos que resultaram em melhoria significativa do saneamento básico e da saúde pública em Amsterdã no século XIX.

Após inúmeros atendimentos na carreira em medicina, Sarphati identificou que a causa de incontáveis doenças e mortes era a precariedade das condições de higiene entre a população pobre da capital holandesa. Diante dos fatos, ele se tornou uma liderança em favor da implementação de projetos de saneamento básico, em diferentes eixos.

Os primeiros passos foram a construção de uma fábrica de pães com produção limpa de alimentos a preços acessíveis, além da instituição de um serviço de coleta de lixo e resíduos numa das regiões mais desfavorecidas da cidade. Os movimentos seguintes o levaram para a política, meio em que pode advogar por projetos de planejamento urbano com estruturas de saneamento englobadas.

Sua voz foi importante para direcionar políticas de saúde pública, por meio das quais Amsterdam investiu também em melhorias na educação e na industrialização. Após sua morte, o Sarphatipark foi projetado e nomeado em sua homenagem em 1885. O local mantém um busto em sua homenagem.

Desde 2013, o Prêmio Sarphati de Saneamento buscava enaltecer as contribuições empresariais para projetos de saneamento básico. Em 2021, a iniciativa foi transformada em desafio para apoiar pesquisa e desenvolvimento de soluções promissoras para replicação em escala, em apelo aos empresários com potencial para agir localmente, a fim de acelerar o acesso ao saneamento seguro para todos.

O incentivo à pesquisa e desenvolvimento no Brasil

A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico mantém, há 14 anos, o Prêmio ANA de melhores práticas e iniciativas voltadas ao cuidado das águas do Brasil. Dividido em oito categorias, o concurso reserva espaço para Pesquisa e Inovação Tecnológica. Nessa divisão, o vencedor da edição 2020 foi Felipe de Azevedo Marques, da Fundação Universidade Federal do Tocantins, com o projeto de Gestão de Alto Nível dos Recursos Hídricos.

Trata-se do primeiro sistema de coleta e transmissão de informações sobre recursos hídricos do País, com monitoramento remoto e em tempo real. A iniciativa teve início em 2016, no Tocantins, para recuperar o Rio Formoso, que secou completamente, desassistindo a produção agrícola e colocando centenas de espécies animais em risco. A equipe coordenada por Marques desenvolveu a solução para medir e transmitir informações sobre a quantidade de água disponível e a quantidade captada, contribuindo para o manejo mais adequado para irrigação e proporcionando a recuperação do nível do rio.